Mesmo sem apoio, presidente da CBF garante ficar no cargo até 2019


“Sou o presidente de fato e de direito da CBF”. A declaração é do coronel Antônio Nunes que, em teoria, comanda uma das maiores entidades do futebol no mundo, apesar de seu isolamento. Em seu último dia na Rússia, depois de um mês no país da Copa do Mundo, o dirigente comentou para a reportagem a sua situação, da Seleção Brasileira e mesmo da Copa América. Em suas declarações, deixou claro que não pretende abrir mão do cargo.

“Meu mandato termina em 19 de abril de 2019 e então passaremos para o Rogério (Caboclo)”, disse. Em sua avaliação, não há nada de errado na forma pela qual assumiu a presidência da entidade. “Os estatutos foram respeitados”, avisou.

Coronel Nunes assumiu o cargo depois que Marco Polo Del Nero foi afastado do futebol, por corrupção. Antes da queda, porém, ele manobrou para colocar Nunes no cargo de vice-presidente e, por sua idade, atender ao critério de ser o sucessor.

Presidente da Federação Paraense de Futebol por seis mandatos e coronel da reserva da Polícia Militar do Pará, Antônio Nunes é também investigado pelo Ministério Público daquele Estado pela sua atuação como presidente da entidade estadual. Em 2011, 2012 e 2013, ela recebeu quase R$ 3,5 milhões de verba pública. Os promotores querem saber como foi gasto esse dinheiro.

Último representante da CBF em Moscou, coronel Nunes deixa a cidade nesta terça-feira, quatro dias depois da última partida da Seleção Brasileira. O problema, segundo ele, foi encontrar voos de retorno. Nesses dias, porém, o presidente não participou de qualquer reunião e, em pelo menos duas ocasiões, saiu do hotel apenas para passeios por Moscou.

Hospedado no luxuoso Hotel Ukraina, seu quarto tem um preço de tabela de US$ 700 por dia. No total, sua estadia teria custado mais de R$ 55 mil. Coronel Nunes ainda insistiu que Tite fez um “excelente trabalho” e que não haveria motivo para encerrar a sua participação como treinador da Seleção. “Se a bola entra no final do jogo contra a Bélgica, o Brasil teria virado na prorrogação. Mas os deuses do futebol não estavam de nosso lado”, lamentou.

O dirigente admitiu a sua “tristeza” diante do resultado. Mas aposta em uma conquista do Brasil na Copa América, em 2019. “Em casa, temos de ganhar”, disse, lembrando que também faz parte do Comitê Organizador do evento. Apesar de suas certezas, coronel Nunes terá o seu destino debatido já no próximo mês. Alvo de controvérsias durante a Copa do Mundo, ele será o foco da próxima reunião do Conselho da Conmebol, em agosto.

A entidade sul-americana e os demais presidentes da região querem avaliar uma punição contra o brasileiro, depois de ele ter rompido acordo do bloco continental no que se refere ao voto para a escolha da sede da Copa do Mundo de 2026. Mas ainda pesa sobre ele as suas declarações dadas à reportagem, acusando a Conmebol de ter imposto um “voto de cabresto”, o que a entidade nega.

Uma punição na Conmebol, porém, poderá reabrir o debate sobre a sua permanência na CBF. O grupo ligado a Marco Polo Del Nero quer a sua continuidade até abril de 2019, como forma de garantir que Rogério Caboclo possa assumir. Mas, nos bastidores, federações estaduais já estudam a possibilidade de formar um colegiado, exigir o seu afastamento e pedir novas eleições.

Isolado pela Fifa e recluso pelo constrangimento, o presidente da CBF praticamente só saiu de seu hotel de luxo para os cinco jogos do Brasil. Ele passou a ser alvo de ironias por parte dos dirigentes estrangeiros, além de questionamentos sobre a seriedade da instituição.

A estadia de luxo do cartola na Rússia beirou o desastre, com uma repercussão imediata para a imagem do País. Poucos dias depois de votar pelo Marrocos, ele se envolveria em uma briga em um restaurante. Um torcedor, para provocar, se aproximou de sua mesa e o teria acusado de estar “mamando” na CBF. A confusão acabou com um copo quebrado pelo assistente do presidente, Gilberto Batista, na cabeça do torcedor. O assistente foi imediatamente enviado ao Brasil.

O caos, porém, levou coronel Nunes a abandonar todos os eventos oficiais da Conmebol, onde é conselheiro. A CBF ainda criou uma espécie de cordão de isolamento, com assessores e mesmo dirigentes encarregados de não permitir que a imprensa se aproximasse do cartola. O cordão de isolamento, porém, também servia para que o presidente fosse monitorado e que não voltasse a cometer gafes na Fifa.

Por semanas, suas únicas saídas eram para demorados cafés da manhã em um dos hotéis mais luxuosos da Europa ou passar horas nos sofás dos bares do local, conversando apenas com seus familiares e assistentes. Dirigentes ironizavam como o coronel Nunes repetia a sua surpresa diária com o fato de o sol aparecer cedo no verão russo.