Autora de fala que mudou rota das Minas reflete sobre sua história no clube

A brasiliense Nádima Skeff, 30 anos, virou destaque em noticiários esportivos do Brasil inteiro no mês passado. Um discurso preparado por ela na noite anterior ao jogo contra o Palmeiras, válido pelo Campeonato Brasileiro feminino de futebol, encantou e motivou as jogadoras do Minas Brasília, mas ecoou muito mais distante do que o vestiário do Estádio Bezerrão, onde foi bradado e filmado. As palavras, a entonação da voz e a emoção praticadas pela auxiliar técnica do time da capital retificaram o roteiro da equipe na competição, que após superar a má fase pode garantir matematicamente a permanência na elite nacional neste sábado (10/10).

“Mulher brasileira jogando futebol nasceu pra ser corajosa, nasceu pra ser aguerrida, nasceu pra todo dia provar pra alguém que você é capaz”. O pequeno trecho dito por Nádima na tarde do dia 9 de setembro encaixou-se perfeitamente na história de cada jogadora do Minas, conforme ela mesmo descreve.

Nascida em Brasília e acostumada a dividir os campos e quadras de futebol com “os meninos”, Nádima fez do esporte a sua vida. Virou profissional, vestiu a camisa da Seleção Brasileira e se mudou para os Estados Unidos. Por lá, atuou profissionalmente, estudou e se tornou mestre em cinesiologia (ciência que analisa movimentos do corpo humano).Viajou novamente, atuou na Dinamarca, ampliou os conhecimentos em cursos de treinador na Inglaterra até aterrissar no vestiário do Estádio Bezerrão, naquele 9 de setembro, e proferir toda essa bagagem acumulada em discurso de poucos minutos.

“As presidentes (do Minas, Nayara e Nayeri Albuquerque) pediram para eu fazer uma preleção. A gente estava vindo de dois resultados ruins contra o Audax e o São Paulo. Até aquele momento, eu não tinha falado nada e elas me pediram para falar alguma coisa antes de as meninas entrarem em campo. Na semana antes, que estava ruim, eu estava vendo um vídeo do John Maxwell (americano referência em livros e discursos de liderança)… À noite eu pensei algumas coisas para falar. Eu escrevi, mas nem levei o papel para o jogo. Muitas meninas nunca nem tinha ouvido minha voz. Mas acabou sendo uma coisa do meu coração mesmo”, recorda Nádima.

A preleção inédita no Minas durou cerca de seis minutos no total. O trecho famoso nas redes sociais dura poucos segundos. Já o legado e o que provocou ainda irão durar bastante tempo. “Esse clipe que ficou mais famoso é relevante para todas as jogadores do Brasil, eu sei o que é, eu passei por isso. Não me envolvo muito na parte tática, então tentei pegar o lado psicológico. Teve atleta que entrou em campo chorando. Falei sobre a pandemia, falei sobre os familiares, mas o foco foi coragem. Acho que aquele momento foi um divisor de águas para todo mundo entender quem é a Nádima. A Nádima não atleta, a Nádima treinadora. Eu me apaixonei por ser treinadora aos 25 anos. Depois daquela preleção com o Palmeiras, as coisas só se tornaram mais pessoais. Criou-se uma identidade de como o Minas é, de como elas jogam. A gente aceitou a forma como podemos jogar.


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Vitória, confronto direto e Covid-19

Na última segunda-feira (5/10), o Minas deu um passo importantíssimo para se manter na elite. Venceu o Iranduba por 2 x 0, fora de casa, e abriu 4 pontos para o rival direto na briga contra o descenso, restando apenas duas rodadas. Nesta partida, curiosamente, a palestra feita por Nádima a cada jogo não se repetiu. A auxiliar técnica testou positivo para o novo coronavírus e se isolou desde a semana passada. Ciente de que se tratava de um jogo decisivo, não deixou as amigas e jogadoras desamparadas. Mandou uma mensagem individualizada para o celular de cada uma, o que pretende repetir neste sábado.

“A partir do jogo contra o Palmeiras, comecei a fazer a preleção de todos os jogos. Elas já sabem que eu vou falar alguma coisa e procuro fazer uma estruturação mental, não repetir os temas. Eu não vou ficar gritando toda vez. Fica uma mesmice. Agora, não vou poder estar com elas, mas vou mandar mensagem para cada uma de novo. Ainda não sei qual será o tema, mas será de acordo com o que eu acho que elas precisam para aquele momento.”

A manutenção na elite do futebol feminino em 2021 pode ser garantida com um empate diante do Cruzeiro, neste sábado, a partir das 20h30. Se não conseguir arrancar um ponto em Belo Horizonte, o time de Brasília ainda tem a chance de confirmar o fico na A1 se o Iranduba não vencer o Kindermann, fora de casa, neste domingo (11/10).

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