Seleção chegará no Catar pressionada por 20 anos sem ganhar uma Copa


A Seleção Brasileira vai embora da Rússia depois da disputa da Copa do Mundo com uma pesada bagagem de pressão e cobranças a serem carregadas pelos próximos quatro anos. O insucesso na busca pelo título em 2018 adia por pelo menos mais uma edição do torneio o objetivo do hexacampeonato e coloca para o Mundial no Catar a árdua responsabilidade de encerrar um jejum de conquistas que chegará a 20 anos.

Depois do título em 2002, na Coreia do Sul e no Japão, o Brasil amargou três quedas nas quartas de final: 2006 para a França, 2010 para a Holanda e a de 2018, diante de Bélgica. O melhor resultado nesse período, ironicamente, foi o Mundial marcado pelo maior fracasso da história. Foi em 2014, o torneio da derrota histórica na semifinal por 7 a 1 sofrida diante da Alemanha, que a seleção conseguiu ir mais longe.

Por isso, quando daqui quatro anos o Brasil entrar em campo para a disputa do primeiro Mundial da história do Oriente Médio, a equipe poderá ter nos ombros uma carga de responsabilidade extra. A Seleção estará há 20 anos sem ganhar uma Copa, o segundo maior jejum da sua história. Um hiato maior só foi registrado até agora entre o tricampeonato no México, em 1970, e o tetra, em 1994, com 24 anos de intervalo.

Os pelo menos mais quatro anos de espera pressionam a cúpula da CBF a encontrar soluções para fazer os 20 anos não se tornarem 24, 28 ou até mais tempo. A entidade avaliou ao longo dos anos, principalmente depois do 7 a 1, atributos a serem melhorados. O principal deles é o princípio da permanência do treinador, algo raro na história da Seleção após uma Copa do Mundo.

Zagallo foi o último técnico na história da Seleção a ter continuado no cargo de uma Copa para outra. Isso foi de 1970 para 1974. Telê Santana também disputou dois Mundiais seguidos (1982 e 1986), mas no intervalo entre um e outro chegou a deixar o cargo para reassumi-lo adiante.

Os demais treinadores passaram pelo cargo por no máximo quatro anos, sem ter o direito de continuar o trabalho após a disputa da Copa. A tendência nas últimas décadas foi de a CBF tentar romper com o estilo de um técnico e recomeçar o ciclo para o Mundial seguinte com algum profissional de propostas diferentes.

Um exemplo claro disso foi em 2006. O experiente Carlos Alberto Parreira fracassou com a Seleção na Copa da Alemanha e deu lugar para Dunga, que jamais havia sido técnico até então. O intuito era de renovar completamente a seleção.

Antes da Copa da Rússia, Tite comentou que, se estivesse há mais tempo no cargo do que os somente dois anos, teria em mãos uma equipe mais preparada. “Uma coisa que eu gostaria era ter tido um ciclo de quatro anos. Teria tempo para fazer um trabalho com base. Fazer todos os testes que precisaria. Mas não foi possível”, afirmou.

Amistosos
Entre os planos para resolver o jejum de 20 anos sem ganhar a Copa, a CBF tem em mente também mudanças no formato da preparação. Os longos quatro anos até o Catar forçam, por exemplo, a repensar os amistosos. A falta nos últimos anos de confrontos contra times de outros continentes fez o Brasil penar na Copa com defesas mais bem armadas do que as encontradas nas Eliminatórias Sul-Americanas, quando dominou a competição.

A dificuldade para isso será com as datas. As principais equipes europeias iniciam neste segundo semestre a disputa da nova Liga das Nações e, assim, vão dificultar para o Brasil a possibilidade de agendar confrontos com rivais de peso para dar experiência a uma equipe que passará por reformulação. Veteranos como Thiago Silva, Miranda e o próprio Daniel Alves, fora da Copa por lesão, devem aos poucos deixar o elenco.

Para as vagas deles será necessário ampliar o monitoramento de talentos. A comissão técnica de Tite estabeleceu nos últimos anos uma agenda de viagens e de acompanhamento no exterior de possíveis convocados.

A CBF também aumentou recentemente o calendário de competições de categorias de base para revelar mais jogadores e espera que no futuro consiga preparar melhor os jovens jogadores, sem que os clubes percam os garotos para times de fora.

Curiosamente, alguns dos possíveis talentos a serem lapidados para 2022 formam uma geração que não se lembra de ter visto o Brasil ganhar uma Copa.