O inglês Bamidele Jermaine Alli, ou só Dele Alli, poderia ser um príncipe da tribo Iorubá, a segunda maior etnia da Nigéria. Seu avô era rei. O meia da seleção da Inglaterra abriu mão de seu lugar no trono por causa de uma briga familiar com o pai quando ele ainda era adolescente. Trocou a coroa da tribo pela bola.

Para ele, a escolha está dando certo. O jogador de 22 anos é um dos líderes da Inglaterra, que luta pelo segundo título mundial na semifinal diante da Croácia, nesta quarta-feira (11/7), em Moscou. Dele Alli pode ter o sangue dos campeões mundiais nas veias.

A infância do astro do Tottenham foi difícil e ajuda a entender as escolhas do adulto. Ele nasceu na Inglaterra, mas é filho do poderoso empresário nigeriano Kehinde Alli. Sua mãe, Denise, é inglesa. Entre as inúmeras viagens de negócios do pai (o menino tentou morar nos Estados Unidos e na Nigéria) e os problemas da mãe com o alcoolismo, ele decidiu morar com a família Hickford, pais de um amigo do MK Dons, seu primeiro clube de futebol.

Sua ascensão foi espantosa. Em fevereiro de 2015, Dele Alli foi contratado pelo Tottenham por 5 milhões de libras (R$ 19,5 milhões). Em novembro, já estava na seleção principal da Inglaterra. É uma das grandes revelações do futebol inglês nos últimos anos. Diante da Suécia, fez o gol que garantiu a vaga na semifinal, algo que não acontecia desde 1990.

O drama inundou as páginas dos tabloides ingleses. Recentemente, a mãe do rapaz contou que não tinha condições de ficar com ele na adolescência, pois tinha quatro filhos de quatro pais diferentes. Ao jornal The Sun, ela disse que, à época, achou que ele teria mais chances de sucesso em outra casa.

Dele Alli não quer conversa com o pai de jeito nenhum. Oficialmente, ele não perdoa os anos de distanciamento. Mas pessoas próximas ao jogador afirmam que ele culpa o pai pelos problemas emocionais da mãe. Atualmente, o astro do Tottenham considera seus pais adotivos como família. Os laços paternos se esgarçaram até se romper totalmente. O meia continua ligado à sua mãe biológica. Ele a ajuda financeiramente e seus outros três irmãos: o caçula Lewis, de 13 anos, e as mais velhas Becky, de 24, e Barbara, de 27.

A ruptura com o pai foi tão dramática que ele resolveu deixar até o seu sobrenome de lado. Ele usa apenas Dele na camisa. “Eu queria que o nome da minha camisa representasse quem eu sou e sinto que não tenho conexão com o sobrenome Alli. Essa não é uma decisão que tive sem pensar muito e discutir com minha família e com as pessoas mais próximas a mim”, afirmou o jogador inglês.

O pai tentou uma reaproximação e foi flagrado nas arquibancadas do estádio de Wembley, em Londres, onde o Tottenham mandou seus jogos na última temporada, no início deste ano, antes da Copa do Mundo. “O único jeito de ele ir pra escola era se eu o deixasse jogar bola depois”, disse Kenny ao Daily Star, que publicou a história. Ele ainda percebeu que, para seu filho crescer no esporte, teria de sair dos Estados Unidos e ir para a Inglaterra. Por isso, segundo ele, deixou que seu filho fosse embora.

Vaias
Os nigerianos tomaram o partido do pai na disputa familiar. Em jogo amistoso entre Inglaterra e Nigéria, o penúltimo antes da Copa do Mundo da Rússia, no mês de junho, os torcedores usaram as redes sociais para criticar a postura do jogador. Queriam que ele voltasse para assumir seu lugar na linha sucessória. A tribo Iorubá é uma das maiores do país ao lado dos Hausa-Fulani e dos Igbo – são mais de 500 grupos étnicos ao todo.

“Se Dele um dia voltasse à Nigéria, seria uma loucura. Ele teria uma recepção de rei em qualquer lugar que fosse”, disse Kenny, seu pai biológico. “Todos os nigerianos veem Dele Alli jogar pela televisão e estão orgulhosos dele. Ser um príncipe abre todas as portas do país para ele. Se ele quiser, pode marcar até mesmo uma audiência com o presidente e o primeiro-ministro”, completou o pai.

De acordo com Denise, que se divorciou do pai de Dele em 1996, a decisão do filho em não usar o sobrenome Alli na camisa deixou o pai arrasado. Ele viajou dos Estados Unidos para a Inglaterra para tentar fazer o garoto mudar de ideia. Não foi recebido.