A Copa do Mundo da Rússia representou uma segunda chance para seis jogadores: Thiago Silva, Marcelo, Paulinho, Fernandinho, Willian e Neymar. Presentes ao grupo da Seleção Brasileira massacrada por 7 a 1 pela Alemanha nas semifinais no torneio de 2014 no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, esses atletas tiveram a oportunidade de mudar suas histórias na equipe, além de faturarem o hexacampeonato mundial. Mas com exceção de Thiago Silva, que deixou a Rússia com status e moral maiores do que entrou, eles falharam na busca pela recuperação da imagem com o torcedor brasileiro.
O peso da derrota por 7 a 1 sempre foi uma preocupação do técnico Tite, que inclusive lutou para que o Brasil disputasse um amistoso contra os alemães antes da Copa do Mundo para espantar o “fantasminha”, como ele declarou diversas vezes. E se o resultado na partida foi bom, com vitória por 1 a 0 em Berlim no fim de março, o desempenho dos “sobreviventes” daquele elenco na Rússia não ajudou a recuperar a reputação deles.
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O caso mais claro é o do volante Fernandinho. Após marcar gol contra Camarões, na rodada final da fase de grupos, se tornou titular da Seleção a partir das oitavas de final na Copa do Mundo de 2014 e foi apontado como um dos símbolos do fracasso contra a Alemanha. Em 2018, era visto como o 12.º titular de Tite, tanto que participou de todos os duelos da equipe na Rússia.
Foi começar jogando, porém apenas contra a Bélgica, pois Casemiro estava suspenso. E viveu uma das suas piores noites. Fez o gol contra que abriu o placar da partida e, abalado psicologicamente, passou a errar passes fáceis, além de dar espaços para os adversários, o que, inclusive, redundou no segundo gol dos adversários. Até foi defendido por Tite, mas acabou alvo da fúria dos torcedores nas redes sociais.
Marcelo e Neymar não corresponderam ao status de estrelas internacionais que construíram nas temporadas recentes. Visto como o jogador da sua posição no mundo e com protagonismo no Real Madrid, o lateral-esquerdo perdeu quase todo o duelo contra a Sérvia e ficou de fora do jogo contra o México por causa de dores nas costas. Recuperado, voltou ao time contra a Bélgica, mas decepcionou, dando muito espaço no setor defensivo, e, principalmente, por não conseguir ajudar Philippe Coutinho na criação no setor ofensivo, colecionando cruzamentos errados na etapa final. “Dói igual. Foi uma noite horrível, ser eliminado não tem explicação”, disse.
Neymar, que esperava brilhar na Copa para ser eleito o melhor jogador do mundo e que não esteve presente ao 7 a 1 por lesão, oscilou entre momentos bons e ruins na Rússia. Teve grandes atuações contra Sérvia e México, mas sofreu desgaste por simulações e excesso de individualismo. Se envolveu em polêmicas com adversários e árbitros, não conseguindo ser decisivo diante da Bélgica, em revés definido por ele, nas redes sociais, como o “pior momento da carreira”. E passou ao mundo uma imagem de jogador imaturo para liderar uma Seleção que vem sendo coadjuvante no futebol mundial em anos recentes.
Em 2014, Paulinho e Willian entraram em campo durante o segundo tempo do 7 a 1, quando a derrota já estava definida, tendo menor participação na construção do duro placar. Quatro anos depois, porém, foram titulares. E pouco corresponderam, repetindo a irregularidade que marcou outros momentos deles na Seleção.
Na Rússia, Paulinho aparentou problemas físicos, tanto que foi substituído em todos os cinco jogos. E não chegou com qualidade na grande área, algo que o tornou um dos destaques da era Tite, tendo marcado apenas um gol, diante da Sérvia, e, inclusive, desperdiçado três chances claras contra a Bélgica. “A (eliminação) de 2014 foi muito complicada, mas essa está sendo mais difícil”, afirmou Paulinho após a derrota em Kazan.
Willian, que em 2014 só foi atuar desde início na disputa do terceiro lugar contra a Holanda, chegou à Rússia como titular e com o apelido de “foguetinho”. Mas só fez valer no confronto com o México, pelas oitavas de final, a ponto de ser substituído no intervalo da derrota para a Bélgica.
Já Thiago Silva é o caso da “exceção que confirma a regra”. O zagueiro, ainda que não estivesse presente ao 7 a 1 por causa de suspensão, deixou a Copa do Mundo de 2014 criticado por suposto descontrole emocional, exibido especialmente ao chorar durante disputa de pênaltis contra o Chile, pelas oitavas de final. E depois perdeu espaço na equipe por erros cometidos.
O cuidado com que Tite o resgatou mostrou a importância que ele enxergava no zagueiro e foi correspondido a partir do momento em que acabou sendo confirmado como titular na Copa do Mundo. Recuperou a braçadeira de capitão, ainda que no rodízio imposto pelo treinador, nos jogos contra Costa Rica e México, foi seguro e praticamente não cometeu erros nos cinco jogos que o Brasil fez na Rússia, até evitando que a equipe sofresse mais gols contra a Bélgica nos momentos de inoperância da marcação dos meio-campistas e laterais. Mas se despediu do terceiro e, provavelmente último Mundial da sua carreira, sem a conquista desejada.