Após um mês de paralisação, o Brasileirão volta a ser disputado nesta quarta-feira (18/7) ainda com as grandes partidas da Copa do Mundo na memória do torcedor. Há um certo sentimento de “ressaca” com o retorno tão imediato. Na Europa, por exemplo, o futebol continua de férias, com as equipes formando seus elencos. O calendário brasileiro é diferente.
Há, no entanto, a expectativa de que a parada possa ter feito bem a alguns times, que antes alegavam cansaço e falta de entrosamento por não terem tempo para treinar. Os 20 times da Série A entrarão em campo com novidades na 13.ª rodada, sejam elas dentro ou fora de campo. Em comum, todos de fôlego renovado.
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Cinco times decidiram mudar de técnico. Abel Braga pediu demissão do Fluminense e Marcelo Oliveira entrou no seu lugar. No Botafogo, Alberto Valentim se despediu – foi para a Arábia Saudita – e deu lugar a Marcos Paquetá. O Atlético-PR demitiu Diniz e o Bahia tirou Enderson Moreira do América-MG, que se acertou com Ricardo Drubscky. O torcedor terá de se acostumar com tudo isso.
Dentro de campo, todos os times mudaram seus elencos. O Santos foi o único que conseguiu a proeza de não perder ninguém. Mas contratou o experiente Bryan Ruiz, que disputou a última Copa pela Costa Rica. O time alvinegro foi quem menos mexeu no grupo.
Alguns jogadores que estavam se destacando antes do Mundial foram negociados. Casos, por exemplo, de Róger Guedes (Atlético-MG), Apodi (Chapecoense) e Arthur (Grêmio). O Corinthians perdeu três jogadores durante a Copa do Mundo: Balbuena, Sidcley e Maycon, todos com destino à Europa. “Difícil avaliar como estamos sem jogar. O que a gente percebe é que suprimos as saídas com atletas experientes”, disse o técnico Osmar Loss, minimizando a situação. Nenhum nome de peso chegou ao Parque São Jorge.
Entretanto, alguns atletas mais conhecidos reforçaram clubes do Brasileirão. Casos, por exemplo, de Hernán Barcos (Cruzeiro), Fernando Uribe (Flamengo), Marinho (Grêmio), Bruno Peres (São Paulo) e Maxi López (Vasco).
Mais mudanças. As alterações nos elencos não param por aí, pois a volta do Brasileiro não significa necessariamente a manutenção do elenco. Pelo contrário, é agora que o mercado da bola ficará mais agitado. Os principais países da Europa ficarão com a janela de transferências aberta até 31 de agosto.
A Arábia Saudita, que voltou a investir e a buscar o que de melhor tem em outros países, poderá “recrutar” reforços até 12 de setembro. Ou seja, quase dois meses de temor com a possibilidade de novas perdas. Além do torcedor, os técnicos também estão ansiosos. Muitos já passaram por isso. Eles trabalham o grupo sem ter certeza de que todos os atletas permanecerão.
Os jogadores do Brasil voltam ao batente cientes de que estão sendo observados por dirigentes europeus ou por seus representantes no País. Sabem ainda que serão comparados aos craques da Copa ou ao futebol jogado nos gramados da Rússia. Somente aos poucos, o torcedor brasileiro vai se esquecer do Mundial e, assim, voltar à realidade do futebol local, com estádios mais modestos, menor público nos jogos e atletas que jamais estariam em uma Copa do Mundo.
Análise: “Temos a chance de conquistar novo público”
Por Pedro Daniel: responsável pela área de entretenimento da EY consultoria
A volta do Brasileirão tem sido encarada pelo torcedor como uma “ressaca” do futebol após a Copa. Mas isso pode ser encarado de duas maneiras. Se olhar para a qualidade do produto, nenhum torneio se iguala ao nível da Copa. Nem mesmo a Liga dos Campeões, então seria injusto fazer comparações técnicas do Mundial com o Brasileiro. Paciência.
Por outro lado, sempre que há grandes eventos, temos a possibilidade de trabalhar em cima de um novo público, para minimizar essa “ressaca”. Um público que está na “onda” da Copa ainda, mas sem a paixão clubística. O Mundial desperta um sentimento mais nacionalista, que acaba no Brasileirão, quando fala mais alto a paixão por um time. A missão é tentar pegar esse público que não é fanático. É um desafio aos clubes, federações e os envolvidos no futebol.
O fato de o Brasil ter caído nas quartas de final não é interessante. A gente se torna mais visado e atraente para o mercado quando somos os melhores. Hoje, a gente fala do impacto do Campeonato Francês e da imigração do país por causa do título da seleção e o mundo passará a ver a França com outros olhos a partir de agora.
A gente pode reestruturar algumas coisas, valorizar mais o nosso futebol, que não é tão atrativo como poderia. O fato é que o Brasil precisa enxergar o futebol como um entretenimento, um negócio. É como a gente vê na NBA. Se transformar o jogo em uma atração, você arrecada dinheiro e, consequentemente, mantém e contrata astros.